23.2.07

Qué me quieres, amor?


Querida,

la otra noche pasé por ti como quien sueña.
Cuando me di cuenta, ya era tarde.
Hacia fresco entre el deseo y la luna.
Olía blanco al darte la espalda a mis ojos oscuros.
Quise gritar pero no había tiempo.
Volvías a casa con el paso pegado al placer y quietud de lo que no se espera de las horas muertas.
Tal vez llevases en los ojos la delicia de no tener miedo a dejar cosas por detrás.
Tuve ganas de saber la verdad, pero ningún valor.
Además, en ese instante, acabara de girar a la derecha contraria de mis ideas.
Dejé en la esquina la pregunta, bajo una sombra de ilusión verde, de que algún día, Nancy, me sueñes la respuesta, y me la cuentes.

Hasta entonces,
tuya,

Nina.

13.2.07

Marcas e afins

É um arrepio que anestesia. O corpo que eleva e encolhe. A boca da mão. Mão molhada e o túnel que nasce dos olhos entreabertos. A pele que guia segredos confessos. Língua que articula palavras precisas, vermelhas e de anis manchadas. O peso lento, a sede, o fio de luz. Voz que não sabe pra onde ir. Espaço findo por ondas longas morrendo em resistência muda. Lábios líquidos e contornos vários . O tenso perfil de coxas, desenho de dentes na nuca.
Roubo tudo num breve fôlego. Breve, breve, breve...

Se te pensar bastasse pra que você soubesse...

1.2.07

Cheiro de chuva

Ela não lembra que chovia muito,
que teve dificuldade em abrir a porta, que tinha urgência.
Ficou tudo no chão, jogado, perdido.

Não tinha palavra que confessar.
Era uma sequência lenta e apreciada,
uma violência estreita, entregue, surda.

A noite nunca comporta água e poesia.
A memória deveria ser sensível à queda.

Mas ela permitiu o golpe.
E ele ia, ia, ia, ia, ia...

Ela viveu uma coisa bonita.
Ele ficou.

Sonho com a primeira chuva do verão.
E só espero poder esquecer tudo depois.


Nina.