17.6.09

De domínio publico

Era curioso. Seus dentes se pendiam perpendicularmente da esquerda para a direita.

Tinha gestos coreografados que mais tarde, pela força da observação e ofício comum, passei a reconhecer e evitar.

O furo na orelha se torna perceptível e quase necessário para descontextualizar o jersey cinza sob a camisa quadriculada de botão que um jovem senhor de 63 anos perfeitamente usaria.

Ele era jovem, mas eu não tinha certeza. A voz forte e doce.

Falava com clareza e ainda que pudesse entender-lo completamente, se o olhasse nos olhos durante o discurso, seria inevitável não empreender uma longa viagem à terras estrangeiras e bastante familiares.

Parecia uma presença que não é. Dá e tira coisas ao mesmo tempo. Não se entende.

Era desconcertante coincidir com suas idéias e por isso existia o subterfúgio mútuo do sorriso em concordância e entendimento, que ambos buscávamos inventar e construir por nada, para nada, em clara consonância com a realidade da obra em que atuávamos com grande amadorismo e precisão. Sem saber.

Havia certa função poética nessas existências.

Seria engraçado apenas observar e mais nada.