Porque sim
Era escuro
Era escuro. Tinha luz encardida e fazia calor, um total despropósito, mas faltavam bichinhos desses que perambulam alto nos postes de fazendas de interior. O ônibus nunca chega. Hoje não tem ninguém fumando por aqui, ninguém de meias coloridas para estancar a ansiedade dos demais. Passa sempre o numero errado e assim segue. É. Nessas horas tudo o que se pode fazer é flutuar na disponibilidade forçada de esperar. Espera propícia e inútil. Passam carros. Passa um vermelho. Ele pensa que em algum carro vermelho estará Marina, voltando de um lugar qualquer, como aquela vez da serra, logo de manhã cedinho, de vidro aberto pra deixar levar de uma vez o abrigo do lado esquerdo, porque já era manhã e não mais feriado. Ela estará cantando, seguramente! Estará feliz como eu, momentos antes, fazendo hora no banheiro do shopping para acabar de escutar uma música que não lembrava que existia há uns 7 anos. Adorava essa musica! Ele lembrou. Suponho que ainda goste. Como talvez goste de Lia, que também chegou dançando assim, sem avisar, há umas duas semanas e alguns dias partidos. Isso é quase nada, mas talvez ela fique. Ou então eu a resgatarei em outra ocasião. Quem sabe numa sala de cinema, vendo um filminho meia boca que ela perfeitamente não aprovaria. Seria um desses castigos submetidos espontaneamente a mim mesmo, por minha própria perversidade. Seria justo. Bom, quase. Quase porque ele gostou do vestido de flor que rodava quando ela fazia graça. Era ótimo o jeito como se voltava contra a parede quando tinha vontade de chorar, daquele jeito que só as boas meninas fazem, ou como ela segurava a cerveja e levantava o dedo mínimo sempre sem querer. Isso também fazia Marina, que é fã de bermudas e laços no cabelo. Coisas. Essas coisas que não devemos deixar passar porque a margem é longa, o rio tem pedras e a água esta terrivelmente fria. Água terrivelmente fria cairia muito bem agora, desejou perdido. Definitivamente foi uma metáfora desproporcional para aquela situação de derretimento. Assim, imagens luxuosamente insignificantes de sua imaginação ociosa invadiam sem muros tudo que existia nesse espaço de 12 minutos que levava esperando. Então abriu um livro. Agora deu pra andar com um livro na mão, sempre, como se isso fosse ajudar a expulsar-se de si mesmo. Era aquela fuga já prisioneira de todas as seqüências rítmicas de paradoxos da rede que o segurava: o ponto de ônibus, as meias coloridas, vermelho do carro, musica no banheiro, matinê domingo, dedos mínimos e livro retido que só serve para ecoar palavras de sombras perdidas na escuridão. E que fique claro, quanto mais lúgubre melhor.
By Nina
Era escuro. Tinha luz encardida e fazia calor, um total despropósito, mas faltavam bichinhos desses que perambulam alto nos postes de fazendas de interior. O ônibus nunca chega. Hoje não tem ninguém fumando por aqui, ninguém de meias coloridas para estancar a ansiedade dos demais. Passa sempre o numero errado e assim segue. É. Nessas horas tudo o que se pode fazer é flutuar na disponibilidade forçada de esperar. Espera propícia e inútil. Passam carros. Passa um vermelho. Ele pensa que em algum carro vermelho estará Marina, voltando de um lugar qualquer, como aquela vez da serra, logo de manhã cedinho, de vidro aberto pra deixar levar de uma vez o abrigo do lado esquerdo, porque já era manhã e não mais feriado. Ela estará cantando, seguramente! Estará feliz como eu, momentos antes, fazendo hora no banheiro do shopping para acabar de escutar uma música que não lembrava que existia há uns 7 anos. Adorava essa musica! Ele lembrou. Suponho que ainda goste. Como talvez goste de Lia, que também chegou dançando assim, sem avisar, há umas duas semanas e alguns dias partidos. Isso é quase nada, mas talvez ela fique. Ou então eu a resgatarei em outra ocasião. Quem sabe numa sala de cinema, vendo um filminho meia boca que ela perfeitamente não aprovaria. Seria um desses castigos submetidos espontaneamente a mim mesmo, por minha própria perversidade. Seria justo. Bom, quase. Quase porque ele gostou do vestido de flor que rodava quando ela fazia graça. Era ótimo o jeito como se voltava contra a parede quando tinha vontade de chorar, daquele jeito que só as boas meninas fazem, ou como ela segurava a cerveja e levantava o dedo mínimo sempre sem querer. Isso também fazia Marina, que é fã de bermudas e laços no cabelo. Coisas. Essas coisas que não devemos deixar passar porque a margem é longa, o rio tem pedras e a água esta terrivelmente fria. Água terrivelmente fria cairia muito bem agora, desejou perdido. Definitivamente foi uma metáfora desproporcional para aquela situação de derretimento. Assim, imagens luxuosamente insignificantes de sua imaginação ociosa invadiam sem muros tudo que existia nesse espaço de 12 minutos que levava esperando. Então abriu um livro. Agora deu pra andar com um livro na mão, sempre, como se isso fosse ajudar a expulsar-se de si mesmo. Era aquela fuga já prisioneira de todas as seqüências rítmicas de paradoxos da rede que o segurava: o ponto de ônibus, as meias coloridas, vermelho do carro, musica no banheiro, matinê domingo, dedos mínimos e livro retido que só serve para ecoar palavras de sombras perdidas na escuridão. E que fique claro, quanto mais lúgubre melhor.
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4 Comments:
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